Coluna do Black

Baile de Máscaras



Eu sempre procurei ser autêntico nas coisas que eu faço. Obviamente tive alguns percalços no caminho por tentar esconder quem eu sou, mas a maturidade e as inúmeras pancadas que tomei da vida me fizeram crer que nada é melhor do que ser você mesmo. E não estou falando daquele papo de livros de autoajuda do Augusto Cury, estou falando de realidade, fatos. Por muito tempo usei uma máscara de adolescente rebelde, bagunceiro, desinteressado e revoltado, quando minha mente era calma, organizada e antenada no que acontecia ao meu redor e centrada nas atitudes e consequências. Eu queria fazer parte do grupo dos descolados, dos que matavam aula para jogar futebol, Playstation 2 e ir ao Parque da Cidade, mas minhas características não combinavam com esse grupo, eu era um santo! Nunca tinha matado aula até então, nunca tinha ficado para recuperação, sentava nas fileiras da frente, repudiava os bagunceiros (mesmo adorando a bagunça), quatorze anos de idade e pasmem, eu ainda não havia beijado uma garota. Era um nerd total! Para completar o estereótipo, só faltavam os óculos fundo de garrafa. Esse era eu, esse ainda é um pedaço de mim, recuperado a muito custo. Não preciso dizer quão tamanha foi a decepção de meus pais ao reprovar o 1° ano do Ensino Médio. A minha situação ficou tão ruim que os turistas da escola me chamavam de turista. Reprovei mais uma vez, vi meus amigos continuando e eu ficando para trás. Só acordei de verdade no 2° ano, e até hoje temo ter sido tarde demais.

E antes que me perguntem por que estou aqui falando baboseiras sobre minha vida pessoal, explico porque toda essa longa explicação: Usar máscaras se tornou hábito corriqueiro. Em todos os lugares, entre todos seus conhecidos, você vê várias pessoas ostentando belos e largos sorrisos nos lábios, enquanto os olhos permanecem duros, frios e tristes. Homens que usam a aparência de machão alfa todo poderoso, defensores da família e da moral, mas que debaixo do chuveiro cantam e dançam "I will survive" como se ninguém além dele existisse. Mulheres que se colocam como independentes, resolvidas e felizes, mas que vivem chorando assistindo “Um Amor para Recordar”, comendo um potão de sorvete de chocolate enquanto lamenta estar solteira e encalhada. Crianças que querem ser os trolls da internet, xingando aleatoriamente, denegrindo opiniões alheias como se fosse "expert" no assunto, provocando e incitando ódio, enquanto no íntimo de sua casa, é só um pivete que sofre nas mãos do irmão mais velho, sofre bullying na escola e faz xixi na cama. São inúmeras as máscaras, de todos os tipos, espécies, tamanhos e efeitos, e arrisco dizer que vivemos hoje não no mundo que vemos com nossos olhos, mas num galante baile de máscaras em que todos dançam conforme a música, a mesma velha, repetida, ultrapassada e chata melodia. Uma música que ninguém gosta, um ritmo que ninguém curte, uma levada que não empolga, mas que todos dançam por que assim lhe disseram que deve ser. Dancem, macacos, dancem!

Pode parecer muito bonito para quem vê todo esse baile, cheio de cores e misturas, danças e coreografias perfeitas. Mas o que está por trás da máscara sempre prevalece, podem ter certeza que sim. Suas máscaras são fracas como se fossem de cera, que derrete conforme os sentimentos em seu peito forem queimando, conforme sua maturidade for florescendo, na medida em que suas atitudes forem te levando de volta a quem você é. Sua máscara tarde ou cedo derrete, respinga no chão, gruda em sua face, cai em pedaços. E o que vemos daí em diante? Sua verdadeira cara, seus verdadeiros sentimentos, seu verdadeiro eu, ainda encobertos por pedaços derretidos de cera da sua fraca máscara. É o momento que você chora, o momento em que você perde algo de importante, o momento em que a vida te dá uma bela rasteira e você não encontra ninguém para te levantar. Afinal, todos estão preocupados demais em manter as próprias faces escondidas e suas máscaras erguidas para liberar uma das mãos e te levantar. É o momento que você tem que decidir: se juntas os pedados derretidos de cera, resfria-os dentro de um coração que você tenta manter gelado, e refaz sua máscara, mesmo sabendo que todos já viram quem você é, o que você sente, o que você sofre, o que você almeja; Ou se retira o restante desse peso inútil que carregou consigo por tanto tempo e mostra todo o seu rosto, como ele é e como deveria ser. O momento em que você aceita a si mesmo como verdadeiramente é e entra no baile, sem máscara, dançando a sua própria música, no seu ritmo preferido, na levada boa que só você conhece.

É tão mais difícil ser quem não somos, e ainda assim tentamos, erramos, tentamos e continuamos errando, quando o mais fácil é aceitar que você é você e assim será para sempre. Eu não sou mulher, eu não sou reconhecido, eu não sou a pessoa mais inteligente da face da terra, eu não sou rico, não sou feliz, não sou o que meus pais querem que eu seja, não sou o que a sociedade quer de mim, não sou a luz no fim do túnel nem o precipício no meio da escuridão. Sou homem, sou desconhecido, sou inteligente ao meu modo, sou pobre de verdade, sou o que minhas atitudes fizeram de mim, e serei o que as consequências dos meus futuros atos determinarem. No MZ posso ser o blackned, mas sempre serei John Herik, não importa o codinome que eu levar. Retire sua máscara e seja feliz!

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